A revolução da internet espraia-se por todos os domínios da atividade humana desde
meados da década de 90 do século passado. Relativamente pouco tempo se comparado à profundidade e extensão das mudanças e consequentes desafios que vieram a reboque do surgimento da mesma.
Para citar algumas, pode-se começar com a globalização dos mercados inaugurando uma nova economia que se expande buscando países emergentes e suas populações, às vezes recém incluídas socialmente e estimuladas a consumir bens e produtos.
Também merecem destaque a horizontalização das relações de poder, o imediatismo das ações dos atores conectados, a impermanência de conteúdos e saberes, a diluição do espaço físico e a consequente relativização das fronteiras geográficas, a instauração da narrativa não-linear e multimídica em contraposição à tradicional escrita linear.
A internet inaugura também novas formas de ensinar e aprender desencadeando com isso a redefinição dos tradicionais papéis de professores e alunos, a possibilidade de múltiplas identidades e a reciprocidade das ações nos ambientes virtuais em rede.
O modelo aberto da internet contribuiu para a consolidação de um novo tipo de agente social, imerso nas redes sociais emergentes, que é ao mesmo tempo consumidor e produtor de informação e conhecimento.
Este novo conceito, já hoje amplamente utilizado em estudos das interações comunicativas em ambientes virtuais, foi antecipado por Marshall McLuhan e Barrington Nevitt, em 1972, a partir da convicção de que a tecnologia eletrônica viria permitir ao usuário dos sistemas de comunicação assumir
simultaneamente as ações de produtor e de consumidor de conteúdos.
A web 2.0 contribuiu para ampliar as possibilidades de participação dos atores conectados no desenvolvimento e circulação de conteúdos, embora seja necessário enfatizar que
vivenciamos, todos, uma transição conturbada dos padrões da sociedade moderna para a pós-moderna, ancorada no hibridismo das mídias de massa modernas (TV aberta e jornais impressos diários entre outros) com as novas mídias (internet e redes sociais). As redes sociais, em especial, propiciaram o surgimento de novos contornos para o ativismo e o empreendedorismo principalmente entre as populações jovens.
Vinte e quatro anos separam a introdução da internet no Brasil – iniciada em janeiro de
1991 através da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), então restrita ao ambiente acadêmico e que, a partir de 1994 , passa a ser ofertada no País de forma comercial – do surgimento do Núcleo das Novas tecnologias de Comunicação Aplicadas à Educação Escola do Futuro – USP , integrado por pesquisadores de diferentes origens movidos pelo interesse comum nas transformações que as tecnologias de informação e comunicação aportariam ao ensinar e aprender, tanto no contexto da educação formal como na educação aberta para a vida.
Para Brasilina Passarelli (2010, p.72), coordenadora científica do NAP EF/USP desde 2007,na perspectiva sócio-histórica das duas últimas décadas, distinguem-se duas “ondas” sociedade em rede: uma primeira, cujo núcleo central é definido pelas preocupações,políticas e programas de inclusão digital, e a segunda, que se concentra nas diferentes formas de apropriação e de produção de conhecimento na web constituindo um novo conjunto de competências e habilidades (também denominadas literacias digitais ou media and information literacy pela UNESCO).