O diagnóstico, mesmo que tardio, aliado à terapia, é fundamental para o autoconhecimento e desenvolvimento da independência
Estima-se que 70 milhões de pessoas no mundo tenham autismo, sendo 2 milhões delas no Brasil.
O autismo se caracteriza por diferentes graus de distúrbio de desenvolvimento, que se manifesta sobretudo na comunicação e na interação social. As causas ainda não são plenamente esclarecidas pela ciência e a intensidade dos sintomas varia bastante – o que muitas vezes faz casos distantes do estereótipo da síndrome demorarem a ser identificados.
De fato, a discussão sobre o transtorno do espectro autista (TEA) na fase adulta ainda é restrita, mas isso não significa que as pessoas deixem de fazer parte do espectro com o avançar da idade. O autismo é uma condição para a vida toda, e compreender seu funcionamento em cada fase da vida é fundamental para garantir qualidade de vida e inclusão social das pessoas autistas.
Para começar a explicar o que é o TEA, o mais fácil é dizer o que ele não é. Ao contrário do que os estigmas afirmam, o transtorno do espectro autista não caracteriza uma doença, mas sim uma variação do funcionamento típico do cérebro. No livro “guia” dos diagnósticos de saúde mental, DSM-5, o TEA faz parte dos transtornos do desenvolvimento neurológico, no qual os sintomas tendem a se manifestar nos primeiros anos de vida.
Esses sintomas são principalmente déficits em funções de comunicação, sociabilidade e interação, e a presença de comportamentos, interesses e atividades restritas e repetitivas. Eles podem estar presentes em maior ou menor intensidade.
Há, inclusive, uma classificação com o objetivo de facilitar e orientar o manejo e as intervenções necessárias para cada pessoa. Atualmente, essa classificação é bastante questionada pela própria comunidade autista, uma vez que, por ser o espectro, é difícil “colocar em caixas” cada manifestação do transtorno. De qualquer forma, essa classificação é mais útil para definir o nível de apoio demandado por cada um. Ela é dividida entre graus e grupos.
- Nível 1: existe uma dificuldade para a interação social, porém sutil, além de dificuldade para troca de atividades e problemas de organização, também de forma leve. Exige apoio leve.
- Nível 2: a dificuldade para socialização é maior. Há também uma resistência a lidar com mudanças, além de comportamentos repetitivos. Exige apoio moderado.
- Nível 3: há déficit de comunicação verbal e não verbal de forma mais clara. A pessoa também possui dificuldade em abrir-se para interações sociais que partam de outras pessoas, muita dificuldade em mudanças e comportamentos repetitivos constantes. Exige muito apoio.
Já em relação ao grupo, existem a síndrome de Asperger; o transtorno autista; o transtorno invasivo do desenvolvimento; e, por fim, o transtorno desintegrativo da infância”, explica Dr. Marcelo Valadares, neurocirurgião, médico do Hospital Israelita Albert Einstein e pesquisador da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Uma frase muito dita tanto pelos especialistas quanto por indivíduos autistas é que “Existe um autismo para cada pessoa”. E, considerando a variedade na manifestação dos sintomas e no funcionamento dentro do espectro autista, não há o que define melhor a condição.
Mas, quando falamos em adultos diagnosticados tardiamente, costuma haver um padrão: são pessoas que manifestam os sintomas de forma mais leve, tidas apenas como tímidas ou com dificuldades sociais típicas, o que atrasa o diagnóstico.
É o caso da Patrícia Ilus, 42, que busca trazer visibilidade aos adultos autistas. Ela recebeu o diagnóstico apenas aos 41 anos, mas conta que sempre percebeu ter dificuldade em socializar. A decisão de buscar um especialista veio depois de uma situação no trabalho.
“Tinha muitas dificuldades em relação a minha socialização, minha percepção sensorial e aos stims (movimentos autoestimulatórios), mas acreditava que era tímida e apenas diferente. Quando duas produtoras que trabalhavam comigo partiram para outros projetos, entrei numa crise profunda, que me fez ver que eu não tinha superado minhas dificuldades. Elas viabilizavam meu trabalho no que diz respeito a fazer contato com as pessoas. Sem elas, me senti completamente perdida e comecei a pensar seriamente que pudesse ser autista, pois sabia que a condição afetava relações sociais.”
A princípio, Patrícia buscou ajuda pelo SUS, mas infelizmente não encontrou uma equipe preparada para lidar com a possibilidade de um diagnóstico do TEA em uma pessoa adulta.
“Tentei apoio pelo SUS, mas não consegui prosseguir com a investigação. O clínico geral que me atendeu não levou minha queixa a sério, e disse que eu não era autista depois de 5 minutos de consulta. Tentei a psicóloga do postinho, mas os atendimentos foram suspensos com a pandemia. Resolvi juntar dinheiro para conseguir minha avaliação pela rede particular. Meu diagnóstico não foi demorado e não deixou dúvidas. Ou seja, eu só precisava encontrar os profissionais certos”, relembra.
Se você se encontra com uma situação parecida como a da Patrícia, fale conosco, conte sua história, ou se preferir, agende uma consulta com nossa Especialista.
Esperamos poder te ajudar.