Funções Executivas

Funções executivas se referem a um conjunto de habilidades responsáveis pelo controle top-down do comportamento. Ou seja, essas habilidades atuam no controle e na regulação de outros processos comportamentais, o que inclui cognição e emoção e são requeridas sempre que o indivíduo se engaja em tarefas ou situações novas, para as quais não possui um esquema comportamental prévio ou automatizado, bem como na resolução de problemas e no estabelecimento de objetivos, sendo fundamentais ao seu funcionamento adaptativo no dia a dia.


Um modelo bastante aceito na literatura recente e sugerido pelo estudo de Miyake et al.9 em 2000 considera que as funções executivas se constituem de três habilidades principais: inibição, memória de trabalho e flexibilidade cognitiva. A partir da integração dessas três funções executivas principais, outras habilidades surgiriam, como, por exemplo, planejamento, tomada de decisão, resolução de problemas e mesmo raciocínio, consideradas funções executivas complexas.
A primeira das habilidades principais é a inibição ou controle inibitório. Essa habilidade permite ao indivíduo controlar comportamentos inapropriados, o que é referido como inibição de resposta ou autocontrole. Está também envolvida no controle dos processos de atenção e dos pensamentos, o que é designado como controle de interferência.

Esse último, na medida em que permite inibir a atenção a estímulos irrelevantes, inclui também o conceito de atenção seletiva. A inibição é grandemente relevante em inúmeras tarefas e situações do dia a dia, pois provê ao indivíduo o controle de seus processos cognitivos, emocionais e comportamentais, suplantando o controle por eventos externos, reações emocionais automáticas, tendências prévias ou habituais. Dessa forma, o indivíduo se torna capaz de inibir impulsos, comportamentos inadequados, respostas automáticas ou prepotentes, assim como estímulos irrelevantes ou distratores, de modo que possa ponderar e pensar antes de emitir uma resposta.
Esse componente se assemelha muito ao conceito de autorregulação, habilidade que permite o ajustamento e a adaptação do indivíduo, o que ocorre por meio do monitoramento, regulação e controle de seus estados motivacional, emocional e cognitivo. Para Diamond os conceitos de inibição e autorregulação se sobrepõem, sendo que o último incluiria também a ativação cognitiva, emocional e motivacional.
Por sua vez, a memória de trabalho, segunda habilidade das funções executivas, refere-se à manutenção da informação em mente por tempo limitado e à habilidade de manipular mentalmente essa informação, seja atualizando os dados necessários a uma atividade, seja utilizando-os na realização da tarefa. Essa habilidade permite que o indivíduo possa relacionar ideias, integrar informações presentes com outras armazenadas na memória de longo prazo e lembrar sequências ou ordens de acontecimentos. Está, portanto, relacionada à memória sequencial e à projeção de sequências de ações no futuro, o que é fundamental, por exemplo, para a organização e o planeja- mento de comportamentos complexos.


Por fim, a terceira habilidade das funções executivas é a flexibilidade cognitiva, que permite ao indivíduo adaptar-se às demandas do ambiente e adequar seu comportamento a novas regras. Envolve a habilidade de mudar o foco de atenção e de perspectiva e tem sido relacionada à criatividade. Assim, a flexibilidade possibilita que o indivíduo aborde um problema a partir de uma perspectiva diferente e possa gerar soluções alternativas ou novas, sem manter-se preso a padrões pré-estabelecidos de comportamento.
Para se compreender a relevância dessas habilidades, pode-se recorrer aos resultados de Moffitt et al.. Os autores avaliaram e acompanharam 1.000 crianças em uma investigação longitudinal de 30 anos. Concluíram que aqueles com melhores habilidades executivas durante a infância tenderam a apresentar, quando adolescentes e adultos, menores taxas de evasão escolar, menor propensão ao abuso de substâncias e envolvimento em crimes, melhores índices de saúde (física e mental) e maior sucesso profissional. Ou seja, as funções executivas na infância podem predizer índices tão relevantes quanto os de saúde, prosperidade e criminalidade, três décadas
depois. Isso mostra o quão importante é o estudo de tais habilidades e seu adequado desenvolvimento.


O papel das funções executivas para a aprendizagem também tem sido destacado recentemente, havendo não apenas evidências da relação entre essas habilidades e o desempenho escolar, mas também dados acerca da importância dessas habilidades para as competências de leitura e matemática. Isso torna imprescindível a consideração das habilidades executivas e sua avaliação frente à queixa de dificuldade de aprendizagem. Instrumentos têm sido desenvolvidos, adaptados e validados no contexto nacional para lidar com essa demanda.
Para além de seu papel na aprendizagem, alterações nas funções executivas têm sido documentadas em diversos quadros (veja Dias et al para uma revisão de alterações nessas habilidades na infância e adolescência), como Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), abuso de substâncias, quadros sindrômicos, como Síndrome de Down e Síndrome de Prader-Willi, Transtornos do Espectro do Autismo, entre outros. Recentemente, porém, alterações nessas habilidades têm sido encontradas em crianças e adolescentes na ausência de qualquer quadro diagnóstico. Ou seja, em alguns casos, essas habilidades podem não estar se desenvolvendo adequadamente. Essa constatação coloca duas importantes questões, as quais este artigo buscará responder:


1) Qual o desenvolvimento normal das funções executivas? É necessário conhecer o desenvolvimento de tais habilidades para que se possam identificar alterações nesse curso?, 2) É possível promover o desenvolvimento dessas habilidades? Se sim, como?

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@claudiaterapeuta12